10 de novembro de 2009

chuva, calha, gripe e roquenrol

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No dia 31 de outubro, sábado, minha adorada Valentina estava gripada. Pensei: humm, não posso me gripar, falta uma semana pro GIG Rock.

Adivinha? Não deu outra, começou de leve na segunda e foi num crescendo, crescendo até o ápice na sexta feira, véspera dos shows. Depois de muitos paracetamol e chá de tudo que é coisa contra gripe, acordei no sábado me sentindo estranho, mas não só estranho da gripe, tinha algo mais no ar e claro, chovia sem parar.
Cheguei pra fazer a passagem de som e aparentemente tudo corria normalmente. Continuava chovendo sem parar.

Aproveitei que tudo estava andando conforme o cronograma e fui ao escritório pegar a lista do pessoal que se inscreveu para trocar o lixo por ingresso – que por sinal, sem falsa modéstia, minha idéia foi um sucesso. Pronto já fiz meu marketing pessoal. – e quando voltei, ou melhor, quando voltava, comecei a entender a sensação estranha que sentia.

Toca meu celular e o Guilherme Brasil (produtor GIG Rock):

- Caco! Caco! Onde tu ta??
- opa, cara, to no taxi voltando...
- cara, ta chovendo no palco!!
- ...
- caco?

Pedi pro cidadão do taxi acelerar um pouco e notei que meu pedido foi de uma infelicidade total. Nesse momento caia uma tromba d’água sobre Porto Alegre, mal dava pra ver a rua de dentro do carro.
Em menos de 5 minutos entrei pelo acesso lateral da casa do gaucho - que dá de frente pro palco - e me deparei com a situação.
Não tava chovendo no palco, havia uma catarata no palco! A única coisa que me ocorreu nesse momento foi colocar as duas mãos na cabeça e pensar: fodeu!

Ah, eu me esqueci de dizer, eu estava responsável pela direção de palco... Ou seja, cabia a eu dar um jeito “naquilo”. A pergunta era: má de que jeito!?

O pessoal do som e luz corria de um lado para o outro tirando tudo que podiam de baixo da “delicada goteira” que gentilmente insistia em inundar o palco, os roadies e o produtor do Pato Fú – banda que deveria estar passando o som nesse momento – não escondiam a cara de desagravo com a situação. Terror e pânico!

Falei com o responsável pela casa e pedi uma solução.

- ah, isso é problema na calha, deve ter caído umas folhas e entupiu. Daqui a pouco a chuva passa e daí fica tudo certo.

Confesso que pensei em pular no pescoço dele.

- Meu senhor, entenda uma coisa, essa chuva não ta com a menor vontade de parar e eu tenho um evento que começa as 14 horas que de forma alguma pode acontecer com um palco alagado. O senhor vai subir lá agora e desentupir a maldita da calha ou chamar alguém ou sei lá o que, mas eu quero essa cachoeira resolvida certo?

Ele me olhou com uma cara de quem ia argumentar alguma coisa, mas desistiu no meio do caminho, creio que minha cara não era das melhores nessa hora. Pra ter certeza que ele realmente ia colocar alguém no telhado, colei do lado dele e fomos pra chuva com o zelador da casa que subiu pra arrancar as calhas.



Passava das 13 horas quando o problema foi finalmente resolvido, ainda tinha que secar e remontar o palco pro pessoal do Pato Fú começar a passar o som. O atraso era inevitável.
A passagem de som terminou às 17 horas, hora que deveria estar entrando no palco a primeira banda, claro, isso na programação normal, na programação dilúvio estava começando a palestra do Marcelo Ferla. Aproveitei pra ir em casa trocar de roupa – tava ensopado - e comer alguma coisa.

Voltei e já colocamos a banda Procura-se quem fez isso no palco, o show começou as 18:30, uma hora e meia de atraso, as conseqüências disso eu sentiria no final da noite. O engraçado é que até agora não sei quem são os caras da banda, eles tocam com um figurino muito maluco, com uma meia preta e uma cartola com aquela luz de mineiro na cabeça. Show bacana, não conhecia a banda e curti o que vi.

O Sobrado 512, próxima banda a tocar e que queria passar o som e não pode devido ao problema do palco, subiu na hora mas demorou uns 10 min. pra “afinar” os instrumentos, não gosto de ser grosso, mas os cariocas me tiraram do sério. Depois compensaram com um show rico em musicalidade, mas assim, aquela coisa carioca, que não é roque não é samba e não é samba roque. Não é minha praia.

Quando entraram os Gulivers eu já estava mais calmo, afinal o que tinha que dar errado já tinha dado... Foi quando na terceira ou quarta música dos guris as luzes do palco se apagam. Esperei uns segundos pra ver se não era alguma coisa do show mesmo, mas infelizmente não era. Foi a vez do gerador dar pau. Nova correria pra ligar a luz em linha e ver o que tinha ocorrido com o gerador. Segundo o cara da empresa que alugou o gerador aconteceu algo raro, tipo não sei o que na biela, até agora não sei o que ele tentou dizer, mas sei que não tinha conserto e não tinha outro pra substituir. Ótima notícia. Se tivesse uma queda de luz ia ficar tudo no escuro e sem som.

Não tinha o que fazer, a não ser procurar onde tinham enterrado o sapo.

O show dos Gulivers - apesar do detalhe da luz - foi um pouco nervoso no início e o som estava um tanto embolado, mas depois embalou e fizeram um bom show.

Na seqüência tocaram os Valentinos e os uruguaios do Hablan por La Espalda, banda que também não conhecia e que irei atrás de mais coisas pra conhecer melhor, os caras mandaram um roque latino com muita pegada e uma clássica performance rocker. Gostei.

Os Walverdes pra variar quebraram tudo e fizeram pra mim um dos melhores shows da noite, ficando atrás apenas da impagável Graforréia Xilarmônica.

As próximas atrações FENX e Dante inferno (Uruguai) a meu ver poderiam ter ficado em casa, a FENX por não ter nada a ver com o festival - lugar de eletro rock e nas pistas ou em rave - e a Dante inferno pelo fato de estarem tão bêbados que não conseguiam afinar os instrumentos, show horrível, pode até ser que a banda seja boa, mas a impressão que deixaram foi péssima. Pior show da noite sem dúvida.

O Tonho Croco é o cara do momento no que se refere a samba roque. Com excelentes músicos colocou a galera pra dançar com vários sucessos da Ultramen, preparando bem o terreno pro show da Malu, deixando a galera bem mais receptiva e descontraída.

Os shows da Malu Magalhães e do Pato Fú foram um primor de profissionalismo.



O show da Malu teve seu momento alto na esperada participação do Marcelo Camelo, que pra delírio da galera, pegou a Malu no final do show e dançou bem agarradinho alimentando mais o suposto namoro deles na imaginação dos fãs. Boatos a parte, o que vi ali do palco foi dois artistas felizes e com um respeito mútuo, fazendo um espetáculo de alto nível musical, com arranjos bem trabalhados e uma banda em perfeita harmonia.



O mesmo posso dizer do Pato Fú e a ótima Fernanda Takai, que fechou o show com umas “guampinhas de capeta com luzes” e uns óculos escuros, cantando um gutural com sua delicada voz, só vendo.
Terminados os dois shows “mainstream” da noite, me sentia mais aliviado, tinha tudo corrido perfeitamente com eles (tava na hora de tudo dar certo mesmo!), sem problemas de som e no tempo correto de troca de palco.
Agora nos encaminhávamos para o final do evento com Graforréia, Bidê ou Balde, Efervescentes e fechando a noite Tenente Cascavel.

A Graforréia fez um showzaço, pra mim o melhor da noite, com direito ao John do Pato Fú pagando de tiete do mestre Frank Jorge, isso que já era alta madrugada nesse momento e o cansaço já era geral, sem falar na bebedeira do povo que atrolhou o camarote open Beco. Mas a galera não queria saber de nada disso e cantou e pulou o show inteiro, coisa que se repetiu em uma proporção um pouco menor no também ótimo show da Bidê ou Balde, com a sempre insana performance do Carlinhos que pulou a cerca de proteção e foi pro meio da galera cantar jogado no chão. Doido de pedra esse Carlinhos.



Os Efervescentes entraram já com a xepa do público e talvez um tanto pelo horário e cansaço geral, fizeram um show sem emoção, mas com o profissionalismo de sempre, mais que compreensível.



Faltava apenas Tenente Cascavel e minha missão (árdua missão depois de tudo isso) estava completa. Montamos o palco em uma velocidade vertiginosa, afinal assim como o público eu já me sentia a própria xepa da xepa, minhas pernas tremiam e meu estomago era um embrulho só, sem falar na cabeça latejando. Foi começar a primeira música e corri pro banheiro do camarim que havia sido do Pato Fú e vomitei.
Ainda não sei o porquê, creio que tenha sido pelo stress ou pela quantidade de medicamentos que tomei pra gripe, mas o fato é que depois disso não tinha mais condições de nada, nem me despedir do pessoal eu consegui, entrei no taxi e toquei pra casa.

Quando desci do carro a chuva parou e amanhecia no domingo em Porto Alegre.

Eu sobrevivi. E o GIG Rock também.